Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu a Beleza às coisas.
(Alberto Caeiro)
há dias de inspiração.
almocei em casa dos meus avós, neste feriado solarengo tranquilo, como de habitual em tantos outros dias iguais a este. mas hoje, o dia tem um sabor diferente. almoçamos na sala "de cima", num primeiro andar da casa cuja "idade" dos meus avós obrigou a desocupar. nesta sala, onde as memórias de uma infância feliz brotam em cada canto. as mudanças decorativas não apagam a imagem de como era: tudo permanece igual. imagino o tapete aconchegado junto aos sofás onde via a minha avó fazer massagens às costas do meu tio, e onde tantas vezes dormimos nas noites quentes das férias de verão. a mesa de jantar é a mesma onde inventamos lanches com a louça "nova" religiosamente guardada da minha avó. falta o gira-discos que nos punha a saltar em volta da mesa. os candeeiros inexplicavelmente feios onde, numa festa de halloween (no aniversario do meu pai), queimamos as meias vermelhas com que vestimos as lâmpadas para "dar ambiente", permanecem.
ando descalça, na tijoleira fria da casa, como fazia.
no quintal, as batatas, as favas, "o cebolo", as couves, os tomates e as alfaces, pintam o cenário em vários tons de verde. sinto a frescura da terra nos pés.
saudades de dançar em cuecas no meio do campo debaixo do "chafariz" de rega do meu avô. não esqueço esse som e vejo-me com os meus irmãos autenticamente felizes!
suspiro. inspiração.
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