quinta-feira, 21 de maio de 2009

o Jornal de Letras e os quiosques de Braga

De vez em quando gosto de comprar o Jornal de Letras. E sobretudo gosto de o comprar e de o ler na rua enquanto regresso a casa. Hoje era um desses dias. No início da rua do Souto, junto ao Arco da Porta Nova em Braga, há um quiosque. Parei e perguntei: "tem o Jornal de Letras?" do outro lado do balcão o senhor respondeu: "Nao e espero não ter nunca! Vem algum artigo que lhe interesse?" Imediatamente me questionei sobre tal reacção. Das duas uma: ou tinha havido algum situação aborrecida com o jornal ou alguem ligado ao jornal, ou nao se vendiam. Confirmou-se a segunda hipotese. Lá continuei. Mais a cima da rua entro noutro quiosque. "Tem o Jornal de Letras?" Respondeu-me a senhor muito gentilmente: " Nao menina, nunca tivemos. Nao vendemos esse." Nunca me tinha apercebido que o Jornal de Letras era um jornal "raro". Costumo comprá-lo no quiosque ao lado da Universidade sem qualquer problema ou comentário. Já quase tinha decidio desistir de comprar o jornal, quando voltei a arriscar no quiosque bem na avenida central. "Tem o Jornal de Letras?". Pronto, aqui a conversa foi bem mais estranha. "Tenho menina. Só vendo a certas pessoas." Fiquei confusa. Respondi: "é pouco procurado o Jornal?" "A menina é professora?" Esta conversa estava a deixar-me muito confusa. Lá respondi que não, que fazia investigação e quase contava a minha historia ao senhor do quiosque, ali em 3 segundos, nao fosse o meu estado de confusao. E além disse o senhor antecipou-se e começou a dizer umas coisas estranhas. Não entendi bem o porquê daquela conversa, mas disse-me que dizia coisas que aconteciam a seguir. A mulher dele diz que ele é ruim. Ele acha que nao. Só uma pessoa boa pode saber essas coisas. O sobrinho foi picado por um galo no olho, tal como ele tinha avisado. A mae morreu queimada, também tal como ele tinha previsto. O irmão está no Brasil. O senhor tinha algumas expressoes brasileiras. E ainda me perguntou se tinha tempo para mais umas histórias. Mas eu nao tinha.

Não sei porque é que o senhor teve estas conversas comigo. Se calhar foi porque lhe disse que me tinha formado em Psicologia. Mas eu acho que foi mesmo por ter comprado o Jornal de Letras.
"Quando quiser comprar o jornal venha cá", disse-me o senhor.

Obrigada. Agora sei que há uma relaçao estranha entre o Jornal de Letras e os quiosques de Braga. Mas ainda não sei porquê.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O que estou a ler

Breves Notas Sobre Ciência, de Gonçalo M. Tavares

" Não há conceitos incorrectos.
Cada conceito é uma invenção da linguagem, uma tentativa de aproximação da linguagem às coisas.
Não há invenções incorrectas.
Não há invenções falsas como não há conceitos falsos.
Verdadeiro e falso não são categorias aplicáveis aos conceitos.
Útil e inutil sim. Aceite por muitos e aceite por poucos, sim.
Todas as invenções são verdadeiras (nao te esqueças)"

Efeito revitalizante

Adoro o efeito revitalizante da natureza! Este fim de semana estive no "EntreSerras, um micro festival de vivências e diversidades" (http://entreserras-microfestival.blogs.sapo.pt/) na serra da Arada. O pouco tempo que lá estive foi verdadeiramente revitalizante! São momentos como estes que me fazem carregar energias, que me devolvem parte da minha essência como quem diz "encontra-te!". Verdadeiros prazeres de viver. O carro pára para um rebanho passar. Ou para passarem umas vacas com ar respeitador. Se por acaso vem um carro atrás, nao se importa de esperar também. E ainda espera por um registo fotografico do cenario. Não há businas. Não há pressas. Também nao há rede de telemovel. Mas nao nos sentimos sozinhos. Nem perdidos. Quase nao há luz. Basta a fogueira e pouco mais. Volta-se a contemplar o céu e as estrelas. De olhos no céu ou de rabo para o ar a tentar descobrir uma especie de besouro aquatico. A imensidao do céu e a infima realidade do mais imperceptivel insecto encontram-se. E assim a natureza nos ensina a relativizar o nosso quotidiano. Incrivel... Incrivel o poder da natureza, incrivel como nos esquecemos de pequenas coisas tão mais importantes do que aquelas com as quais nos martirizamos. Incrivel como nos esquecemos de ter uma boa vida. Incrivel como perdemos tão facilmente a capacidade de contemplar...

As joaninhas comem o pulgão. Onde há joaninhas há pulgões. Vimos a Joaninha mas nao encontramos o pulgão.