quarta-feira, 16 de junho de 2010

Once upon a time...


quero envelhecer. 
viver na cidade. falar com as vizinhas à janela, tratá-las por diminutivos: leninha, mariazinha, rosinha, lininha. ter flores nas varandas e cuidá-las com carinho. ter um mini-quintal com ervas aromáticas e uma pequena horta. cuidar com carinho.lanchar no café e falar do antigamente. ou de qualquer coisa, não importa o quê. ter com quem falar. pintar os lábios rugosos com batom vermelho e as maçãs do rosto envelhecidas com blush. trazer um espelho e um pente na carteira para me arranjar. vestir de forma ousada para a minha idade. um acessório que a minha neta poderia usar. acordar cedo no verão e dormir até tarde no inverno. ter uma gata que se enrosca aos nossos pés junto à lareira, no inverno.  passear na rua de mão dada com o meu amor. namorar sem nada mais importar. adormecer tranquila. ter orgulho numa vida inteira. poder dizer que fui feliz. ser feliz.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

estado de graça

Piquenique Pedro e Lila... uma espécie de casamento...
foi assim no sábado, dia 12 de junho. depois de uma semana de nuvens carregadas e cinzentas, o sol espreitou. estenderam-se as toalhas aos quadrados vermelhos e brancos, almofadas, cestas de fruta por todo o lado, garrafoes-transformados-em-jarras-com-flores-campestres-da-época, e começou a festa. foi uma espécie de casamento... e se a cerimónia não estava prevista, logo se improvisou! é assim com este grupo de amigos que não deixa passar a oportunidade para dar asas à imaginação! uma corneta a abrir caminho, uma cruz improvisada, um convidado italiano "directamente do vaticano em representação do Papa", umas alianças feitas coroas de giestas, um jarro de agua para a benção, e uma corda para garantir que ficam unidos para sempre, meia duzia de palavras soltas e estava o casamento feito!! 
casados de fresco, não havia tempo a perder. o Pedro e a Lila tinham tudo planeado: equipas feitas, jogos organizados, apito, cronómetro, quadro de pontuações, e os respectivos materiais. hora de jogos tradicionais! jogo da malha, saltar à corda, partir o púcaro, corrida com colher com ovo na boca, comer a pêra de olhos fechados, comer a bolacha presa por um fio à cintura, braço de ferro, corrida de bicicleta de dois lugares, corrida de sacos, e jogo da corda. dizem que ganharam os L2... toda a gente reclamou o seu primeiro lugar, como numa verdadeira competição! espírito de equipa, grito de guerra, batota e batoteiros, e toda a gente jogou! exaustos, doridos, felizes.
o dia estava a terminar. ao pôr do sol, o brinde aos noivos e bolo para toda a gente!! 
e foi assim esta espécie de casamento... um piquenique de partilhas. fomos testemunhas do amor do Pedro e da Lila, e partilhamos o verdadeiro valor da amizade. obrigada Pedro e Lila!
abençoados por um dia lindo, rodeados de pessoas maravilhosas com quem partilharam momentos importantes das suas vidas. 
Num verdadeiro estado de graça... sejam felizes família linda!!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

inspiração


Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu a Beleza às coisas.

(Alberto Caeiro)

há dias de inspiração.
almocei em casa dos meus avós, neste feriado solarengo tranquilo, como de habitual em tantos outros dias iguais a este. mas hoje, o dia tem um sabor diferente. almoçamos na sala "de cima", num primeiro andar da casa cuja "idade" dos meus avós obrigou a desocupar. nesta sala, onde as memórias de uma infância feliz brotam em cada canto. as mudanças decorativas não apagam a imagem de como era: tudo permanece igual. imagino o tapete aconchegado junto aos sofás onde via a minha avó fazer massagens às costas do meu tio, e onde tantas vezes dormimos nas noites quentes das férias de verão. a mesa de jantar é a mesma onde inventamos lanches com a louça "nova" religiosamente guardada da minha avó. falta o gira-discos que nos punha a saltar em volta da mesa. os candeeiros inexplicavelmente feios onde, numa festa de halloween (no aniversario do meu pai), queimamos as meias vermelhas com que vestimos as lâmpadas para "dar ambiente", permanecem.
ando descalça, na tijoleira fria da casa, como fazia.
no quintal, as batatas, as favas, "o cebolo", as couves, os tomates e as alfaces, pintam o cenário em vários tons de verde. sinto a frescura da terra nos pés.
saudades de dançar em cuecas no meio do campo debaixo do "chafariz" de rega do meu avô. não esqueço esse som e vejo-me com os meus irmãos autenticamente felizes!
suspiro. inspiração.


terça-feira, 1 de junho de 2010

estado alterado de consciência #2



Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem

é a vida desse meu lugar
é a vida

... é viver sabendo que há gente que vem para ficar, outros que passam, outros que já chegaram e não demos conta, outros que já partiram achando que ainda estão. e a vida é aproveitar o agora. seja tudo passageiro, seja para ficar ou para ir, mas vivê-lo agora. com a intensidade de um momento onde tudo pode partir, mas a memória dessa intensidade vai ficar. já ficou.