De vez em quando gosto de comprar o Jornal de Letras. E sobretudo gosto de o comprar e de o ler na rua enquanto regresso a casa. Hoje era um desses dias. No início da rua do Souto, junto ao Arco da Porta Nova em Braga, há um quiosque. Parei e perguntei: "tem o Jornal de Letras?" do outro lado do balcão o senhor respondeu: "Nao e espero não ter nunca! Vem algum artigo que lhe interesse?" Imediatamente me questionei sobre tal reacção. Das duas uma: ou tinha havido algum situação aborrecida com o jornal ou alguem ligado ao jornal, ou nao se vendiam. Confirmou-se a segunda hipotese. Lá continuei. Mais a cima da rua entro noutro quiosque. "Tem o Jornal de Letras?" Respondeu-me a senhor muito gentilmente: " Nao menina, nunca tivemos. Nao vendemos esse." Nunca me tinha apercebido que o Jornal de Letras era um jornal "raro". Costumo comprá-lo no quiosque ao lado da Universidade sem qualquer problema ou comentário. Já quase tinha decidio desistir de comprar o jornal, quando voltei a arriscar no quiosque bem na avenida central. "Tem o Jornal de Letras?". Pronto, aqui a conversa foi bem mais estranha. "Tenho menina. Só vendo a certas pessoas." Fiquei confusa. Respondi: "é pouco procurado o Jornal?" "A menina é professora?" Esta conversa estava a deixar-me muito confusa. Lá respondi que não, que fazia investigação e quase contava a minha historia ao senhor do quiosque, ali em 3 segundos, nao fosse o meu estado de confusao. E além disse o senhor antecipou-se e começou a dizer umas coisas estranhas. Não entendi bem o porquê daquela conversa, mas disse-me que dizia coisas que aconteciam a seguir. A mulher dele diz que ele é ruim. Ele acha que nao. Só uma pessoa boa pode saber essas coisas. O sobrinho foi picado por um galo no olho, tal como ele tinha avisado. A mae morreu queimada, também tal como ele tinha previsto. O irmão está no Brasil. O senhor tinha algumas expressoes brasileiras. E ainda me perguntou se tinha tempo para mais umas histórias. Mas eu nao tinha.
Não sei porque é que o senhor teve estas conversas comigo. Se calhar foi porque lhe disse que me tinha formado em Psicologia. Mas eu acho que foi mesmo por ter comprado o Jornal de Letras.
"Quando quiser comprar o jornal venha cá", disse-me o senhor.
Obrigada. Agora sei que há uma relaçao estranha entre o Jornal de Letras e os quiosques de Braga. Mas ainda não sei porquê.
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